Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, é um engenheiro diplomado por Glasgow, Futurista convicto, admirador de Walt Whitman e influenciado por Marinetti, que escreve esta ODE de apologia à máquina e ao progresso em 1914, em Londres.
Foi publicada no primeiro número da revista ORPHEU em 1915.
Álvaro de Campos
ODE TRIUNFAL
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensações,
Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
...
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João Pernão
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